Hoje eu quero contar para você a história da Clarice, uma cliente minha que me autorizou a dar esse relato, mas que preferi alterar o nome para proteger sua imagem. Quem sabe essa pode ser a sua história também?
A Clarice é minha cliente há 7 anos. A primeira vez que fui atendê-la, ela me convidou para conhecer sua casa. Aparentemente tudo era muito organizado, cada coisa em seu lugar, tudo muito lindinho. Quando ela abriu as portas dos armários, primeiro achei que estava tudo normal, ainda mais comparando com outros casos que já atendi. Nada de muito estranho… porém, o que me chamou a atenção foi a falta de setorização. Nenhum critério na organização, tudo muito misturado… o que é normal para quem procura a ajuda de uma Personal Organizer. Ela me disse que há tempos queria organizar a casa, mas tinha vergonha de mim.
Eu disse a ela que esse é meu trabalho, e além de estar acostumada, para falar a verdade, curto muito uma bagunça alheia.
É importante existir bagunça, principalmente como sinal que podemos descontar nossa bagunça interna em algo externo. É normal que as pessoas sintam vergonha da gente. Garanto que já vi casos bem bizarros e isso para mim é um incentivo, uma terapia, pois adoro organizar. Nós trabalhamos com a alma das pessoas e isso é fantástico, porque quando exercitamos nossa intuição, sem julgamento, sem superioridade, encontramos pessoas como a Clarice, que junto com a falta de critérios dentro de casa, trazia também uma grande tristeza no olhar.
Acho importante começar a organização pelo armário de roupas. Ele é o guia, nosso primeiro contato pela manhã logo depois que acordamos, depois do banheiro. A Clarice não ficou em casa e claro que no primeiro dia não consegui finalizar todo o trabalho. A coisa ficou feia e a bagunça tomou conta do quarto.
Precisamos desconstruir para construir novamente.
Quando ela chegou em casa, me olhou com muita tristeza e revelou seu problema. Ela havia me pedido para organizar sua cabeceira. Era um mega criado-mudo ao lado da cama, com três gavetas grandes repletas de carregadores de celular, tablete, contas para pagar, revistas, receitas… tudo em cima do móvel ao lado da cama. Eu perguntei se ela dormia bem. Com aquela quantidade de informação a lado do lugar destinado para dormir e relaxar, claro que a resposta foi um NÃO. Ela me disse: “Tatiana, faz muito tempo que eu não sei o que é dormir”.
Quem tem insônia na verdade tem a necessidade de vigiar, olhando pelo ponto de vista da psicologia. Com tantas informações assim bem ao lado da cama, claro que ela precisava ficar vigiando e não conseguia relaxar mesmo. Mas o problema não para aí. Quando ela abriu as gavetas, lá estava o segredo da Clarice: uma quantidade absurda de remédios, de todos os tipos. Depois, ela me contou que tinha compulsão por remédios.
Retirei todos os carregadores, contas e papéis de cima da cabeceira. Deixei tudo livre, somente com a Bíblia sob o móvel. No outro dia, quando retornei, retirei os remédios, a metade foi para o lixo, a maioria vencido. Fiz uma farmacinha com uma caixa organizadora e levei para a despensa. Limpei bem o armário e passei colônia de calêndula; fiz uma caixa de entrada de contas e um lugar para carregar celular na sala; as gavetas do quarto ficaram para objetos íntimos e bem pessoais e livros de oração; no armários de roupas, setorizei e organizei daquele jeito lindo que uma boa personal organizer faz.
Depois de uns dias, fui visitá-la para ver se havia voltado a bagunça ou se as técnicas de organização implantas estavam funcionando. Eis que o relato dela foi um dos mais apaixonantes que eu já ouvi:
“Tati, minha casa ficou mais leve. Hoje tenho vontade de ficar nela… quando anoitece, sinto meu quarto me chama para descansar. Nunca mais tive insônia e estou mais livre, me sinto tão bem em casa. Foi um divisor de águas na minha vida….”
Isso é o que a organização faz na vida da gente. Esse sentimento de liberdade…
As pessoas vão esquecer daquilo que você disse e daquilo que você fez, mas nunca se esquecerão daquilo que você fez elas sentirem.